fotos: Germana Lucena - Sadvipra Leadership Training - maio/2015 - Piracaia-SP - Brasil
quinta-feira, 28 de maio de 2015
Saudade vale a pena!
fotos: Germana Lucena - Sadvipra Leadership Training - maio/2015 - Piracaia-SP - Brasil
Há alguns dias terminou a imersão Sadvipra Leadership
Training, que tenho a honra de co-anfitriar com meu querido mentor Peter Sage.
Depois que todos foram embora da Pousada Figueira Grande, em Piracaia, interior
de São Paulo, eu e minha mãe (que veio fazer o curso pela segunda vez) ficamos,
com a intenção de voltar para a capital no dia seguinte.
À noite, após o jantar, vendo o céu estrelado, a lua
crescente, a bela vista para os morros, a mata e represa, e o jardim que,
algumas horas antes, estava cheio de pessoas, sentimentos e luz, bateu-me uma
nostalgia, misturada com saudades. Meu primeiro impulso foi o de me apressar
para fazer o que iríamos fazer em seguida – ver um filme – e esquecer dessa
sensação. Entretanto, algo me fez parar e ficar.
Deixando-me visualizar os momentos que se passaram, e as
emoções que eles evocaram, comecei a saborear o lento processo de deixar aquela
jornada se dissolver na minha alma, como um chocolate que derrete na boca.
Exatamente como deveríamos fazer após uma boa refeição: apenas permanecer
digerindo, lentamente, os nutrientes do que foi ingerido. Deixando-me embriagar
dessa doçura, realizei em meu corpo o quanto vale a pena ter saudade!
Lembrei-me, então, de uma frase que recebi numa rede social:
“a saudade é a maior prova de que o passado valeu a pena”. Ela é o registro no
corpo de que o arrepio, que é para mim a voz de Deus, da Vida, da Consciência, ou
do Propósito Maior, aconteceu. E é a coleção de saudades, de momentos bem
vividos, que vão se somando para saturar o cérebro de tanta felicidade, que ele
já não consegue mais contrariar e escravizar o coração – pois as provas são
contundentes e irrevogáveis.
Essa percepção me encaminhou para ir ainda mais no fundo,
nas experiências mais sublimes que já tive meditando, contemplando a natureza,
ou simplesmente em contato com minha vida interna. Percebi que minha busca pelo
Espírito não é a busca de algo que eu não vivi – é a saudade profunda de algo
que vivi e vivo, mesmo quando não estou consciente disso. Há no meu corpo o
registro de um amor tão profundo, que a própria vida, desde o nascimento até a
morte, parece-me o longo processo de digerir esse amor, até que eu me torne um
com ele novamente.
Durante os dias nessa imersão de liderança, nós vivemos uma
jornada que começou com a investigação de nosso propósito de vida e terminou
com a busca de nos unir com o Amor Maior, entendido como esse espaço máximo que
abriga tudo que existe. Vivemos um caminho para sairmos da nossa noção autocentrada
de que somos sujeito, refletindo sobre o objeto-vida, para nos tornarmos, nós,
o objeto de meditação do sujeito-vida, ou desse Grande Amor.
Na penúltima noite, fizemos um sarau para que cada um
expressasse, como quisesse, sua forma de cultivar a relação com esse Amor.
Poemas, histórias, músicas e até uma dança, todos muito tocantes, sucederam-se,
e ao final a minha sensação era de que, sim, o Amor Maior estava presente, vivo
e vibrante no salão. E, no dia seguinte, nas atividades finais foram
inevitáveis algumas lágrimas e vários sorrisos de contentamento. De saudades.
Saudades do Grande Amor.
Emocionado com essa atmosfera tão sutil, doce e profunda que
criamos juntos, senti-me atingindo o ponto máximo de meu propósito – mesmo que sinta
que dá para “aumentar o volume” e gerar espaços ainda mais poderosos de conexão
com o Amor. Ficou claro para mim que o mundo em que líderes partem desse lugar,
de saudades do Amor Maior, para então crescer internamente e servir
externamente, só pode ser um mundo livre, belo, abundante e solidário.
E agora, com toda essa reflexão, fiquei pensando: como seria
o mundo se cultivássemos menos ganância e raiva, e mais saudades do nosso
Grande Amor Universal? É um pouco triste que a gente tenha que correr tanto, e
tenha que fugir tanto do corpo e das emoções, que não dá tempo de sentir
saudades. Saudades do que é maior que nós mesmos, pois é de onde viemos, onde
estamos, e para onde vamos.
E o pior é que a saudades não vai embora porque nós fazemos
mil coisas para esquecer dela – ela apenas se transforma na saudade amarga,
aquela do amante que se sentiu rejeitado e abandonado - em vez de se preservar
como a doce saudade – aquela do amante em plena comunhão com sua amada ou seu
amado, e que espera ansiosamente o momento do reencontro, e vibra com cada
sinal, cada telefonema, cada vislumbre, e saboreia todos os pequenos momentos
vividos juntos.
Por isso, posso dizer, de boca, corpo e coração cheios: saudade
vale a pena!
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