domingo, 18 de outubro de 2015
Celebrando o meu maior presente de aniversário!
Daqui a pouco, em 27 de outubro, eu completo 34 anos. Um
aniversário especial, pois comemora duas grandes viradas de vida. Uma aconteceu
neste ano: minha mudança com minha esposa, Rafaela, para Santo Antônio do
Pinhal - ainda que continuemos a passar em média 3 dias por semana em São
Paulo. A outra aconteceu há exatamente 10 anos, quando, próximo do meu
aniversário de 24 anos, fui iniciado em meditação por um monge de Ananda Marga
(Caminho da Bem-Aventurança), uma linha do Tantra Yoga que não foca no sexo
como prática espiritual, e sim na expansão da consciência por meio do amor
devocional, da investigação interna e do serviço ao mundo.
Seu nome de monge era Dada Diipajinanananda, um neozelandês
alto, de olhos profundos, e muito silencioso. Quando ele deixou o Brasil, eu havia
recebido a primeira e a segunda lições de meditação (são seis). Depois, recebi
a terceira da monja americana Didi Anandamitra, que muitos conhecem no Brasil
como Susan Andrews, fundadora e diretora do Instituto Visão Futuro. Em seguida,
pedi ao monje Dada Jinanananda, um dinâmico monge do Congo que inspira muitos
jovens aqui no Brasil a se engajar tanto na prática espiritual quanto na luta
por transformação social, para que fosse meu orientador de meditação, e ele me
deu as três lições finais.
Por isso, em primeiro lugar, quero honrar esses três
orientadores, que me deram de presente a joia preciosa das lições de meditação,
que pratico quase que invariavelmente duas vezes ao dia. Dessas sentadas, às
vezes indescritivelmente deliciosas, às vezes assustadoramente desafiadoras, eu
retirei muito mais do que poderia imaginar. Não apenas os benefícios
normalmente associados à meditação, como concentração, foco e relaxamento, mas
também estabilidade e aprofundamento emocional, clareza de quem sou e do meu
propósito nesta vida, insights profundos e transformadores sobre meu passado e
meus traumas, e também sobre o que oferecer para o mundo como serviço – e como,
quando e onde.
A meditação me empoderou no meu processo de auto-cura e,
acima de tudo, abriu a porta para um conjunto de experiências que eu jamais
havia tido com qualquer outra experiência humana (mesmo em práticas
espirituais). É difícil descrever essas experiências, mas elas quase tornam a
palavra Amor como uma palavra pequena, que mal contém o que por dentro se está
sentindo. Elas revelam uma busca que transcende o tempo e o espaço, e mesmo a
noção de Eu. Elas tornam real a percepção de que a grande meta da minha
existência eterna não é senão ser Um com Tudo que Existe, na forma do mais
sublime Amor (vou usar a palavra por ser, ainda assim, a que mais se aproxima),
e agradecer esse Amor vivendo todas as tonalidades da vida, das minhas
luminosas às mais sombrias, como ofertas que coloco no altar do Amado. E esse Amado
é o próprio Amor em suas três formas: a que está além da compreensão; a que se
manifesta na criação que somos e que nos rodeia; e a que encarna na forma de
uma entidade que possamos amar (o Deus, o mestre, o guru etc).
Portanto, quero, também, agradecer a esse Amor, que teve a
generosidade de me abrir esse conjunto de experiências, pois sem que isso me
tivesse sido permitido, minhas seis lições não teriam valido de nada. Esse Amor
já havia se apresentado como um grande mistério que eu perseguia, para em
seguida aparecer na forma de meu Guru de meditação, Anandamurtii, e agora se
revela, cada vez mais, como toda a vida do planeta Terra, e de todo o Universo,
com tudo de mais lindo e medonho que existe neles.
Agradeço, em especial, a Anandamurtii, meu Baba (Amado),
pois todos os mestres que se colocam como pontos de concentração para onde
podemos direcionar nosso Amor Devocional o fazem por profundo serviço amoroso
ao outro, e não, como comumente pensamos no Ocidente, por desejo de serem
adorados e servidos. O mestre se coloca como uma tela de projeção de todos os
nossos padrões de relação conscientes e inconscientes com nossos pais e nossas
autoridades internalizadas para que, pouco a pouco, possamos ir limpando essas
projeções e, no final, mergulhar não na personalidade do mestre, mas no Amor
Transcendental que se esconde atrás Dele.
A unidade com o mestre só acontece quando justamente
alcançamos um grau de inclusão interna de tudo que existe, chegando ao
entendimento de que não há nada do que se defender, ou para atacar. Tudo o que
o mestre poderia nos trazer, de bom ou ruim, já existe integrado dentro de nós
e, portanto, toda a tentativa de sustentar a fronteira do dentro e do fora, do
eu e do outro, dissolve-se, não por perda de si, mas por expansão de si. Esse é
um dos motivos pelos quais muitos mestres espirituais podem ser contraditórios
e polêmicos com seus discípulos: quando são mestres verdadeiros, fazem isso
para que que o discípulo experimente e transcenda todo o espectro da dualidade,
desde a ponta mais luminosa à mais sombria. Para que o discípulo não se ligue
ao mestre por atração ou por aversão, mas por reconhecimento da Unidade. Uma
vez alcançado esse estado, não há mais fora – tudo está dentro. O mestre não é
um líder autoritário que nos comanda arbitrariamente, mas antes um líder
servidor que se destitui do desejo de ser querido pelos outros para se tornar
um alvo de concentração no qual podemos gastar toda a nossa munição de
projeções do ego, até não restar mais nenhuma história a ser contada sobre
aquele alvo, e a experiência da Unidade se revele. E, a partir dela, podemos
expandir essa experiência para tudo e todos.
Somente seres com total desapego de seus próprios egos
poderiam coloca-los a serviço de tão grandiosa e árdua tarefa. De serem amados,
odiados, duvidados, seguidos cegamente, temidos, desejados, até que todos esses
fantasmas sejam destilados e reste apenas o reconhecimento do Inominável que,
uma vez visto no mestre, é visto em si e em tudo mais. Tudo passa a ser apenas
um instrumento para a refulgência do mais eterno e brilhante Amor.
Não posso afirmar que, nesses dez anos, todas as minhas
defesas caíram, mas posso dizer que as que caíram já foram suficientes para que
eu experimentasse um nível de paz e de conforto com a vida tão deslumbrantes,
que eu não trocaria por qualquer outra experiência no mundo. Mas foram dez anos
exatamente assim: amando, odiando, duvidando, seguindo cegamente, temendo e
desejando. De briga e paz. Não com meu mestre, ou com o Amor, mas comigo mesmo.
E eu sempre achava que era com Ele, mas no fim, via que era tudo projeção
minha, e que Ele sempre esteve ali, amorosamente me olhando e esperando eu me
encontrar. Logo, muito, muito grato, Baba, por sempre ter estado a meu lado. Só
você (e eu) sabemos a jornada épica que foram esses anos, dentro e fora de mim,
e de tudo que você fez por mim, para que eu crescesse e amasse tanto - a mim e
à vida.
Por fim, quero agradecer a todos os que me apoiaram nesse
caminho. Todos os mestres que me acolheram com carinho, em especial Jesus
Cristo, que me recebeu nesse mundo e que se revelou por meio de pessoas tão
especialmente iluminadas, como minha avó Ceiça, mãe de minha mãe, que me ensinou
uma espiritualidade que ama, e não que castiga. Sei que minha saída do
catolicismo pode parecer uma ruptura com minha história e minha tradição, mas
não é. Todos os mestres são um só, e isso a mente consegue compreender. Mas o
coração precisa amar alguém, como forma de aprofundar a relação (por isso
escolhemos alguém para casar, por exemplo), e essa escolha vai além da lógica
que conseguimos alcançar – só podemos entender com a intuição o que nos faz
escolher um mestre, e não outro, como nosso objeto de devoção. Meu coração
escolheu Anandamurtii, mas Jesus Cristo, e todos os que são, para mim,
instrumentos verdadeiros de seu amor, como minha avó e minha tia Célia, terão
sempre minha profunda gratidão.
Agradeço minha mãe, Maria Teresa, um ser liberto e que me
ensinou a liberdade. Se não fosse ela, eu não teria jamais me permitido trilhar
o meu caminho espiritual, e teria seguido num caminho que poderia ser bonito,
mas não meu. Ela foi e continua sendo o testemunho de servir ao Amor Maior em
qualquer forma com que ele se expresse, sem preconceitos, mas com muita
seriedade e, graças a Deus, bom humor.
Agradeço a todos os amigos e irmãos espirituais, com quem
compartilhei inúmeros momentos lindíssimos de prática, em que criamos juntos um
campo de elevação, em que nos sentimos juntos tocando os pés do divino,
enquanto cantávamos, meditávamos, contemplávamos a natureza, compartilhávamos
histórias espirituais, conversávamos sobre o que realmente importa ou
simplesmente compartilhávamos da doce presença um do outro. Nesse sentido,
agradeço especialmente a minha esposa, amante e parceira espiritual, Rafaela, e
a meus queridos companheiros da Comunidade Ser. Vocês são meus parceiros numa
jornada numa antes trilhada – a de viver a senda espiritual de autoconhecimento
e serviço ao mundo de forma coletiva, e materializando-a em projetos
transformadores que fazem crescer a nós e aos outros.
E agradeço a todos os outros monges e orientadores, de
Ananda Marga e de outros caminhos, que sempre me presentearam com joias de
sabedoria e de inspiração, a ponto de eu me sentir o homem mais sortudo desse
mundo, como um peregrino da alma que, a cada passo, encontra um sábio diferente
que lhe abre mais uma porta. Um agradecimento especial a Susan Andrews, pelo
conhecimento que me passou do Tantra e da Biopsicologia, e a Peter Sage, ou Dada
Vishvarupananda, por ter sido sempre com um pai amoroso e acolhedor, humilde o
suficiente para me ensinar tudo que sabe enquanto aparenta apenas estar
aprendendo comigo, e por ser, acima de tudo, uma manifestação do que mais
admiro no caminho da Ananda Marga.
Agradeço a tudo e a todos que fizeram desses dez anos uma
década mágica de despertar e aprendizado, e rezo para que possa chegar ao final
dos próximos dez anos com a mesma humildade e persistência de um praticante muito
especial de Ananda Marga que conheci: Vishvashanti, um americano que mora na
Dinamarca. Ele me disse num retiro que após vinte anos meditando sentiu que,
agora sim, estava aprendendo a meditar! E espero que esse testemunho possa
inspirar quem estiver sentindo o desejo de mergulhar nessa épica jornada para
que o faça o quanto antes – da sua forma, em seu próprio caminho - pois,
acredite, vale a pena. Que o caminho escolhido seja o do coração, e que a
potência mais profunda e misteriosa da vida se revele a nós, e nos guie.
Namaskar!
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