Sou colecionador de livros infantis e, onde vou, sempre pesquiso um que seja realmente especial e compro. O mais recente, adquirido na minha passagem pelos Estados Unidos, foi “The Tao of Pooh” – “O Tao do Ursinho Puff”. Sim, é isso mesmo. Um autor, praticante do taoísmo, arriscou fazer a ponte entre os ensinamentos Taoístas e as atitudes do famoso ursinho, em suas histórias. Escrito de forma muito cativante, como se ele estivesse conversando com o próprio urso, já nas primeiras páginas o livro traz reflexões belas e interessantes, e algumas delas me inspiraram a pensar sobre a questão das ditas “minorias”, como o público LGBT.
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
A partido do natural
Sou colecionador de livros infantis e, onde vou, sempre pesquiso um que seja realmente especial e compro. O mais recente, adquirido na minha passagem pelos Estados Unidos, foi “The Tao of Pooh” – “O Tao do Ursinho Puff”. Sim, é isso mesmo. Um autor, praticante do taoísmo, arriscou fazer a ponte entre os ensinamentos Taoístas e as atitudes do famoso ursinho, em suas histórias. Escrito de forma muito cativante, como se ele estivesse conversando com o próprio urso, já nas primeiras páginas o livro traz reflexões belas e interessantes, e algumas delas me inspiraram a pensar sobre a questão das ditas “minorias”, como o público LGBT.
Coloco “minorias” entre aspas
porque não acredito que exista nada fora que não exista dentro. Dentro de mim
mora o feminino e o masculino, a cor negra, amarela, branca e vermelha, a
limitação física e mental, a genialidade e a potência corporal, o amor e a
atração por pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto. O que chamamos de minorias
são apenas os pontos de maior expressão de características que moram em todos
nós, em diferentes graus. Porque nós somos tudo. E é a não aceitação do todo
aqui dentro que me faz querer destruir as partes lá fora que me lembram a
existência dessas partes em mim.
E é interessante, porque
justamente ao tentar “minorizar” e eliminar, justamente cristalizamos e
fortalecemos o que não toleramos. Eu cresci aprendendo a ser homofóbico – não
no sentido de agredir fisicamente mas, tão cruel quanto, de ridicularizar, de
considerar inferior e de excluir qualquer possibilidade de que a atração por
uma pessoa do mesmo sexo pudesse acontecer comigo ou qualquer pessoa da minha
família. No começo da faculdade, eu não me sentia confortável em compartilhar
em certos círculos que eu tinha amigos gays. Era uma tentativa de me libertar
do meu preconceito, mas pela metade: eu me sentia muito confortável com esses
amigos, mas não me sentia confortável com a possibilidade de ser julgado por ser
próximo deles.
E o resultado dessa cultura
homofóbica que me influenciou é que, na minha mente, e na de muita gente,
qualquer possibilidade de atração por alguém do mesmo sexo, mesmo que em
princípio não fosse uma atração sexual, virou sinônimo de que, no fundo, a
pessoa “é gay”. Qualquer proximidade maior que pudesse representar prazer em
estar com alguém do mesmo sexo era experimentada quase como um vírus que havia
entrado em nosso corpo e, uma vez identificado, iria se alastrar e não haveria
mais volta. E nossa vida seria destruída.
Logo, é claro, eu e um bocado de
gente teve que incorporar esse dilema em nosso processo de descoberta sexual,
porque eu não conseguia diferenciar prazer físico e afetivo de atração sexual.
Com isso, era difícil identificar o que era verdadeiramente meu, e o que era
uma crença adquirida, sobre minha sexualidade. Acredito que a grande maioria
dos homens sente isso, só que muitos evitam essa confusão não ficando
fisicamente perto de outros homens.
Essa não foi minha escolha. Eu
amo muitos homens – amigos, irmãos, parceiros – e gosto de beijá-los,
abraça-los e até deitar no colo deles. Imaginem então como ficou a minha
cabeça, que de um lado sentia a homossexualidade como algo muito natural e, por
outro, tinha medo de pensar se atrás daquele momento tão gostoso com um amigo não
estava a revelação definitiva e irrevogável da minha homossexualidade – e, por
isso, acabava ficando com raiva da homossexualidade existir e “não me permitir
viver em paz”. E isso veio muito mais da cultura homofóbica, que cria monstros
desnecessários na relação entre homens, que do homossexualismo em si, que é
apenas mais uma forma de afeto entre homens – e não a única.
Mas, graças à vida, a uma família
evolutiva e a ótimos processos de autodesenvolvimento pelos quais passei, eu
fui evoluindo em diversos sentidos – inclusive nesse. E o primeiro salto foi
perceber que eu não sou nenhuma categoria. Eu sou o que sou. O que meu corpo me
pede, aqui e agora. E que, no meu caso, neste momento, é viver minha energia
sexual com as mulheres – ou, melhor ainda, com minha mulher. Mas poderia ser
diferente. E tudo bem. Com isso, passei a gostar mais e mais de ver as pessoas
serem quem são. Seja o que for. E que isso vai muito além de “ser” ou “não ser”
gay. Diz respeito a seguirmos o que é natural para nós – a cada momento. Pois o
que é natural hoje pode não fazer mais sentido amanhã, e vice-versa.
E acho que é exatamente porque o
natural é tão múltiplo e mutável que, cada vez mais, lutamos para entender
todas as categorias de sexualidade que estão surgindo. Até a sigla LGBT não
está mais contendo todas as possibilidades de expressão da afetividade e do
desejo sexual. Simplesmente porque a verdade e o natural não estão nas
categorias. Está no que o corpo pede. Não só o corpo humano – mas o corpo dos
animais, da natureza, do nosso organismo social, do universo e da vida como um
todo.
As categorias podem servir, no
máximo, para nos ajudar a libertar algo que o corpo está pedindo. Quando eu
disse “eu te amo” pela primeira vez para minha esposa, algo que já estava no
meu corpo se libertou, e ganhou mais força. Eu pude ser mais eu. Quando as
pessoas que amam indivíduos do mesmo sexo deixaram de se ver como “bichas” ou “sapatões”
e passaram a se ver como pessoas com identidades sexuais próprias e valiosas, e
deram a isso o título de “homossexuais” ou “gays”, elas também se libertaram e,
junto com elas, libertou-se o potencial de normalidade e beleza dessa forma de
expressão da sexualidade. O único porém é que, uma vez cumprida a função de
libertar o que estava tentando se expressar, a categoria “estaciona” – ela fica
onde estava, enquanto o corpo, seus desejos e suas possibilidades de expressão
continuam evoluindo. Até que a categoria já não sirva mais para honrar o que
está ali agora.
Portanto, a categoria que ontem
libertou, hoje pode aprisionar. Pois o corpo já está pedindo mais coisas. E aí
vamos criando novas categorias, que deem contam do novo que está emergindo em
nós. Homosexualismo, bissexualismo, transexualismo, trânsgenero, homoafetivo, e
por aí vai. E, enquanto esse processo for libertador, ele precisa ser
legitimado e valorizado. E, quando ele for repressor, impositivo, tentar
maquiar verdades ou gerar estereótipos, deve ser desmascarado. De todo modo, o
que importa é dar espaço para que as pessoas – não só no campo da sexualidade,
mas em qualquer campo – tenham cada vez mais espaço para expressar quem são
naturalmente.
E é aí que entra o Tao do Ursinho
Puff. Como afirma o autor do livro, Benjamin Hoff, “de acordo com Lao-tse,
quanto mais o ser humano interferiu no equilíbrio natural e governado pelas
leis universais, mais a harmonia se retirou para longe. Quanto mais forçamos,
mais problemas geramos. Seja pesado ou leve, molhado ou seco, rápido ou lento,
tudo tem sua própria natureza intrínseca, que não pode ser violada sem causar
problemas. Quando regras arbitrárias e abstratas são impostas de fora para
dentro, o conflito é inevitável. Somente aí a vida passa a ter um gosto ruim.
(...) Ao trabalhar em harmonia com as circunstâncias da vida, o entendimento
Taoísta permite que transformemos em positivo o que outros podem perceber como
negativo. Do ponto de vista Taoísta, o gosto ruim e amargo da vida surge da
mente interventora e não-apreciativa. A vida em si, quando entendida e
utilizada pelo que ela é, é doce”.
Em outras palavras: o
desequilíbrio vem quando impomos categorias às pessoas que não libertam aquilo
que é natural para elas. O problema com conceitos como “macho” e “bicha” não
está tanto no teor de preconceito, mas no quanto eles escravizam e proíbem o ser
de expressar por inteiro suas leis naturais, como sugerido por Lao-Tsé. Se
estamos tentando obrigar os outros a se encaixar numa certa categoria, está
óbvio que a “lei” ou “verdade” que estamos tentando vender é arbitrária e
imposta de fora para dentro, e que o conflito será inevitável.
Talvez as pessoas possam se
deixar repreender por algum tempo (mesmo que isso signifique séculos), mas
inevitavelmente, a verdadeira lei – a que vem da vida e do corpo – irá se
impor. Não há ira divina que possa impedir esse processo. Nem a aterradora
destruição de Sodoma e Gomorra e sua perpetuação como ameaça divina, durante
séculos de dominação religiosa, foi capaz de impedir os indivíduos que amam
pessoas do mesmo sexo de, no final, vencerem e terem cada vez mais espaço para
expressar o que lhes é natural. Nem toda a repressão e medo da homosexualidade que
encontrei durante a descoberta da sexualidade foi capaz de me impedir de
encontrar (e me encontrar) com minha sexualidade e com o amor da minha vida.
Não porque eu estava seguindo algum preceito cultural homofóbico – mas
simplesmente porque isso é quem eu sou.
Como não aprendemos a respeitar o
natural e usar o nosso construto social, linguístico e simbólico para
libertá-lo – em vez de aprisiona-lo – nós acabamos perdendo essa harmonia e
esse equilíbrio de que fala Hoff em seu livro. Como temos dificuldade em
evoluir, o que implica dar nome para o que não foi ainda nomeado, dar espaço
para o que antes não existia e que ainda não entendemos, preferimos tentar
“congelar” a vida naquilo que já descobrimos e que, uma vez, no passado, funcionou.
E achamos que se todos forem e fizerem isso para sempre, tudo vai ficar bem...
Não à toa nossa noção de paraíso é, tantas vezes, a imagem de um lugar em que
nada nunca muda. Socorro!
Nessa cultura desconectada do
natural, não queremos que nossa expressão sexual mude, assim como não queremos,
por exemplo, que a medicina mude. Testemunhei curioso e atônito a batalha
travada por minha incrível mãe, Maria Teresa, enquanto ela se afastava da
medicina dita “tradicional” e incorporava inovações em seu jeito de praticar a
cura que, muito tempo depois, passaram (ou começam) a ser aceitas como
legítimas. Formas que, na prática, são tão eficientes, que têm atraído muita
gente que antes desacreditava desse novo jeito, e que agora não encontra mais
resposta no “tradicional”. Como militante de uma educação mais livre e
democrática, fico também atônito com a reação agressiva a qualquer tentativa de
que a estrutura formal de educação mude – resiste-se tanto aos movimentos de
desescolarização quanto a se falar de emoções na sala de aula. O que choca não
é o fato da mudança não acontecer – pois ela poderia ser um sintoma de que o
que está sendo proposto não é natural – e sim o nível de violência aberta ou
velada, pessoal e institucional, impedindo que a mudança aconteça, mesmo quando
muitos sinais mostram que ela é necessária. Mesmo quando as manifestações das
pessoas, nas redes sociais, nas ruas, nas conversas de bar, estão gritando que
há uma lei natural não sendo respeitada.
O que conforta é saber que,
silenciosa ou abertamente, tudo está mudando. Porque quando algo é natural no
processo evolutivo, ele se torna inevitável. Logo, a questão não está em saber
“se” o natural vai acontecer. Ele vai. Nunca esteve em nossas mãos impedir que
a homossexualidade se estabelecesse como opção legítima. Sempre foi e sempre
vai ser, e cada vez mais, pois a realidade do corpo e da vida (e não dos nossos
preconceitos morais e religiosos) têm mostrado que é assim. Que este é o
natural de milhões de pessoas ao redor do planeta. O que muda é “como” isso vai
acontecer: com uma percepção e aceitação mais rápida e fluida do que é, ou com
muita resistência, conflito, ataques histéricos e descabidos como o de Levy
Fidelix, sofrimento – e, como a história mostra, mortes. E se quisermos supor
que existe algo mais natural que essas diversas expressões sexuais que temos
hoje, não precisamos brigar – isso vai se impor, no momento certo. Se for
natural.
Portanto, minha busca tem sido a
de dar espaço para o natural, em todos os campos da vida, mesmo quando ele
choca com os valores e os conceitos que eu já havia construído antes. E para
isso, é preciso muito discernimento. Nem tudo que é novo é “natural”. Podemos
propagar algo bem diferente da cultura atual, algo inovador e chocante, e no
fundo isso não ressoar em ninguém, pois no fundo é apenas uma categoria
“diferente” que está tentando ser vendida, sem que ela responda ao que está, de
fato, querendo emergir. É apenas uma organização interessante de ideias, para
chamar atenção, gerar catarse emocional, satisfazer o desejo de rebeldia, ou
algo que o valha. Da mesma forma, nem tudo que é natural é “novo”. Respeitar o
natural não é negar a tradição. Mas a verdadeira tradição se perpetua
naturalmente porque é uma lei universal enraizada no corpo e na vida, e não em
nossas frágeis e datas crenças.
Por outro lado, temos de levar em
conta que nem sempre algo que não ressoa no coletivo não é natural. Às vezes
algo não encontra eco de imediato porque não estamos preparados para escutar,
ou porque o sistema social reprime e não oferece espaços para que a mensagem
seja escutada em larga escala, e como legítima – o que acontece frequentemente
em nossa cultura de mídia de massa, que antes ditava solitariamente o que podia
ser comunicado e agora, com o fenômeno da internet e das redes sociais, não determina
tudo o que pode ser dito, mas busca legitimar alguns discursos e deslegitimar outros,
e vencer pelo tamanho. A mídia de massa ainda chega em mais pessoas que os
guetos internéticos, infelizmente.
Também precisamos levar em conta
que o risco que existe em congelarmos o natural numa nova categoria, num
primeiro momento mais ampla e inclusiva, e que o impede de continuar crescendo.
Esse é um debate que ocorre, inclusive, entre alguns grupos de defesa das
“minorias”, quando sentem que a categoria “negro”, “gay” ou “deficiente” começa
a gerar mais estereótipo que esclarecimento. De certa forma, isso aconteceu
comigo, pois se um lado meu acreditava na lei imposta pela cultura dominante,
do “não devo ser gay”, outro lado já havia criado uma outra lei, também imposta
por uma cultura emergente, que dizia que “se eu não me abrir para ter uma
experiência homossexual, é porque eu sou preconceituoso ou conservador”. E
ambas as crenças não me libertavam para eu ser quem sou.
O natural está menos nessa ideia
de “minorias” e “maiorias”, de certos e errados, que ainda é baseado em
categorias, e tem mais a ver com o que pensamos, sentimos e fazemos quando
estamos em nosso estado de fluidez, de alegria e conexão com o que nos é
profundamente significativo. Para alguns, um casamento heterossexual monogâmico
pode ser o resultado natural de quando se está nesse estado. Para outros, um
relacionamento bissexual e aberto pode ser esse resultado. Mas se desconectados
desse estado verdadeiro de fluxo, ambos os cenários podem ser categorias buscadas
“de fora para dentro” e gerar conflito interno e externo, por nos impedir de
seguir a nossa lei universal para obedecer a uma lei “abstrata e arbitrária”, e
que pode ser criada por qualquer grupo, não importa se de esquerda ou direita,
da cultura da violência ou da cultura de paz. Todos estamos vendendo conceitos
que se propõem a dizer o que é natural independente do que nosso corpo sente.
Tocado por tudo isso, tenho
buscando aprofundar minha busca por aceitar e libertar o que é natural – e,
para isso, tenho conscientemente feitos de exercícios de reflexão interna, de
diálogos significativos e de experiências que me tiram da zona de conforto. No
campo da homossexualidade, isso significa, por exemplo, conversar com amigos
gays sobre coisas que ainda eram tabus para mim, como ser “passivo” durante o
ato sexual entre dois homens. Ouvindo intencionalmente como é isso para eles, e
que beleza e prazer eles encontram nisso, pude deixar de lado o preconceito
oculto que me fazia aceitar o homossexualismo como algo que eu respeito, desde
que eu não veja por inteiro, ou de achar que quem é ativo “é mais macho”, para
de verdade apreciar outras formas de amar que não estavam no meu escopo, encontrando,
inclusive, como essas formas se expressam em mim, dentro da minha realidade.
Significa também ir assistir
filmes de amor em que o casal central são pessoas do mesmo sexo e não sentir
que estou assistindo um “filme gay”, mas sim um filme de amor. É conversar
abertamente com amigos sobre as diferentes expressões de nossa sexualidade,
buscando legitimar as expressões próprias e empatizar com as expressões dos
outros, sem tentar chegar em certos e errados, em julgar um como mais puritano e
outro mais libertino. E, à medida que as categorias congeladas vão se
dissipando, e dando lugar a novos conceitos, que respeitam o orgânico e o
natural, uma apreciação da singularidade de cada ser, e das diversas formas da
felicidade se expressar, surge. E isso traz, internamente, muita felicidade
também, pois é uma delícia poder ser quem se é e, ao mesmo tempo, apreciar e
celebrar a beleza do outro. E, melhor ainda, por não estarmos presos a
conceitos, é delicioso deixar-nos surpreender por formas de beleza que nunca
havíamos experimentado antes.
Assim, ao mesmo tempo em que é
muito importante lutar para colocar limites nos crimes homofóbicos, é
igualmente essencial fazer o que idealizou Buckminster Fuller: em vez de lutar
contra a realidade que queremos mudar, lutar a favor da queremos estabelecer, e
deixar a outra morrer de inanição. Isso significa, para mim, deixar de colocar
energia nessas leis abstratas e arbitrárias, que tentam se legitimar como
“universais” porque algum dia algum deus, filósofo, cientista ou qualquer
figura legitimadora falou que “é assim”, e botar mais energia em nomear e viver
em consonância com as leis universais, essas que estão enraizadas no fluxo
natural do corpo e da vida – o que minha mãe chama de “zona de energia
correta”.
É importante se dar conta que
brigar contra as leis impostas é uma forma de dar energia para elas. Em geral,
brigamos tentando fazer valer outras leis, opostas às que estamos combatendo,
que podem até serem reflexo das leis universais. Mas, a própria energia de
raiva e de agressividade com que combatemos é sintoma da nossa dificuldade de
nos enraizar no que é natural, e só aumentamos o problema. Quando uma lei é
realmente natural, ela impera, e não o que temer. Não há espaço para debate
agressivo, não porque é “proibido”, mas porque a verdade já está no corpo – não
há nada para ser vencido, mas apenas para ser clareado. O debate, portanto,
ocorre não para derrotar ou convencer mas, para juntos, darmos nome para o que
já está aqui – um nome que faça sentido para todos, ou para a maioria. E,
novamente, não porque “acreditamos” naquilo. Mas simplesmente porque é. E
quando é, nosso corpo sabe. Quando nos alinhamos com o que é, ganhamos uma
força incrível para sustentar o que nos faz sentido (pois “o que é”, “o que nos
faz sentido” e “a força” são, na realidade, diferentes nomes para uma mesma
coisa).
E como nomear o que “é” pode ser complexo
e demorado, já que tateamos o emergente a partir das categorias e conceitos que
temos agora, dentro de nossa vivência pessoal, familiar e social, o debate
democrático tem importância vital. Ele nos dá a oportunidade de ver novas
camadas do que já está ali, à medida que nossas convergências e divergências
vão alargando nossa percepção do que é natural não só para mim, mas para o
outro, para um grupo, para uma nação. A lei universal, que já é, vai se tornado
clara à medida que vamos sentindo, nomeando e honrando o que é natural para
todos. Isso implica mais a assertividade, firmeza e dignidade de caráter do que
a agressividade e violência. Em princípio, mesmo um debate com muita
divergência pode ser amoroso e nutridor. Não precisamos xingar e destruir o
outro – mesmo que ele esteja sendo preconceituoso. Mas, a depender do nível de
repressão para que o natural emerja, precisamos sim ser vigorosa e
corajosamente assertivos em sustentar o que estamos vendo. O que está aqui. E
não o que deveria estar. A lei natural. E não a abstrata e arbitrária.
Entregando inclusive nossa vida em favor da verdade. Pois onde o natural
impera, impera também a verdade e a vida.
Isso, claro, é bem diferente do
debate político agressivo que temos hoje, e que encontra um de seus extremos no
discurso homofóbico. Esse debate é apenas a representação visível da tentativa
desesperada de fazer uma verdade artificial e construída, baseada em crenças
datadas, fazer valer sobre o que, de fato, é a demanda do corpo e da vida. E
isso se estende para muitas outras áreas do diálogo político. Se boa parte da
verdade vendida pelos partidos e candidatos fosse natural, não precisaria de
tanta parafernália de marketing, de tanta mentira, de tanta repressão, enfim,
de tanto esforço, para se fazer valer. E não haveria problema em deixar outros
candidatos e partidos, menores, terem mais espaço. Pois se os candidatos com
maior poder estão honrando a lei universal, o que temer? E se os demais
candidatos, com proposta alternativas, estão falando bobagem – algo que não
ressoa com o natural, o que temer? E se estamos todos trabalhando para permitir
a plena expressão daquilo que é natural e bom para todos e, portanto, tanto faz
quem ganha e quem perde, o que temer?
Portanto, a fúria de Levy Fidelix
e da massa homofóbica é, de fato, o desespero de uma classe desconectada de seu
fluxo natural, assustada com o ruir de suas verdades frágeis e inventadas, e que
está perdendo para aquilo que não se pode vencer: a lei natural e universal da
vida e do ser humano. Daquilo que é espontâneo e verdadeiro. E que, quando não reconhecido
e não honrado, gera dor, conflito, repressão, rebeldia e sofrimento, para todos
os lados. Mas quando reconhecido, honrado e amado, tal como é, torna a vida
extremamente doce, como os potes de mel que o Ursinho Puff tanto adora.
The Tao of Pooh, Benjamin Hoff
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